domingo, 13 de dezembro de 2009

Prólogo



Egito, 4000 a.C, margem do rio Nilo.
- Servos! Eu lhes mostro o meu poder! – o faraó brandia um cajado no ar. O bastão era dourado, e em cada uma das extremidades, havia uma pedra. Na ponta superior, uma rocha dourada, e na extremidade inferior, um mineral negro. Os súditos aplaudiam ao seu mestre, mesmo sem saber o que ele faria a seguir. Estavam às margens do Nilo, e o faraó estava em cima de uma espécie de palco, feito puramente de grandiosos blocos de pedra. Ele ordenou silêncio, e prosseguiu. – Agora, vocês irão ver os nossos deuses em carne e osso. Eles chegarão aqui graças a este cajado mágico, forjado pelo meu sacerdote de confiança, Amon. – apontou para o único homem que estava junto dele no altar. – Agora, eu, Seth, o faraó Seth, trago ao nosso mundo, os deuses Amón Rá, e Anúbis!
Seth passou o bastão ao homem ao seu lado, que brandiu o instrumento no ar, do qual as extremidades começaram a brilhar, iniciando uma dança extremamente complexa. Uma fissura se abriu acima dos egípcios que assistiam ao espetáculo. Dentro da abertura, se viam raios e cores aleatórias, que se mantinham em constante movimento.
Algum tempo se passou, mas nada mais aconteceu. Muitas pessoas já pensavam em ir embora, quando finalmente aconteceu o que todos esperavam. Um ser humanóide, com cabeça e asas de águia saiu da abertura. Logo atrás dele, um homem com cabeça de chacal, empunhando uma lança de prata, saltou da outra dimensão.
Os súditos começaram a aplaudir o sacerdote, que agradecia com reverências. Porém, a alegria durou pouco. Anúbis, o chacal, avançou contra um grupo de homens que se curvavam para ele, e decapitou-os.
Alguns imploraram para que Rá os ajudasse, mas ele continuava a pairar nos céus, enquanto o outro matava quase todas as pessoas ali. De repente, o Deus do Sol se voltou em direção ao outro, e desceu como um raio, desembainhando a espada feita de ouro, e quando estava quase decepando a cabeça de Anúbis, se desviou do mesmo e ajudou na carnificina.
Pasmo, o sacerdote reiniciou a dança, tentando mandar os deuses de volta à sua dimensão, mas era tarde demais. Quase todos os súditos estavam mortos, e agora, o Deus Rá fincava a espada no peito de Seth, que morreu imediatamente. Os monstros subiram no altar, e se ajoelharam diante do invocador, que percebeu que ainda havia sobreviventes do espetáculo.
O sacerdote, enfim, descobriu o próprio poder. Decidiu então, chamar os ídolos apenas quando fosse prioridade, e os mandou para o seu lugar de origem. O cajado foi chamado de “Cajado dos Deuses”.
Amon ficou com medo que o poder caísse em mãos erradas, e mandou construir uma pirâmide para enterrar o seu corpo, e o bastão junto com ele. Seu desejo foi realizado, e a tumba, trancada com um código impossível de se decifrar.
Depois disso, o Antigo Egito viveu um período em que a história se desenrolou.

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Império Romano, 117 d.C, sala do imperador Trajano.


- Senhor! Acaba de chegar um comunicado urgente! – o soldado chegou ofegante na sala do imperador.
- Espero que seja muito importante. – disse Trajano, largando as uvas que saboreava.
- Conquistamos a Bretanha senhor!
- Excelente! – o monarca exclamou satisfeito. – Obrigado soldado! Volte ao seu posto.
- Sim senhor. – o jovem se retirou do aposento, rapidamente.
O imperador olhou para o anel que carregava – um anel dourado, com um rubi encravado – e o apontou para o espelho que havia no recinto. Uma luz escarlate surgiu no espelho, e foi tomando uma forma circular, criando uma passagem. Após alguns minutos, um ser com um corpo de cavalo, e busto de homem, saiu da abertura.
- E então? – Trajano abordou. – Como foram os resultados? Meu subordinado disse que ganhamos a guerra e conquistamos o território. Isso é verdade?
- Sim, o que ele disse é verdade. – confirmou o recém-chegado. – Mas também é verdade que perdemos muitos homens da linha de frente.
- Bom, mas é isso que acontece nas guerras, concorda? Não há vitória sem sacrifício. Eu sinto muito pelas vidas perdidas... – lamentou-se o imperador.
- Tudo bem... – o centauro ficou em silêncio por alguns segundos, e depois voltou a falar, entusiasmado. – Mas o que importa é que nosso império está se expandindo cada vez mais!
- Realmente. Acho que vou comemorar indo ao Coliseu. Quero me divertir um pouco. – o imperador, já se levantava para sair, quando o outro o interrompeu.
- Mas e a nossa parte no acordo? Podemos agora, viver entre o seu povo? – ele perguntou curioso.
- Sabe Taurus, eu sempre gostei de você. – Trajano foi andando em direção ao ser, e levou a mão ao punho da espada. – Do seu povo também. Mas isso infelizmente...
E com um rápido golpe, o romano decapitou o centauro. Usou seu anel para mandar o corpo da criatura embora, da mesma maneira que o trouxera. E antes de sair para comemorar, completou a frase:
- Não irá acontecer. Seres do inferno não vivem entre meus homens...

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Civilização Maia, 500 d.C, Chichén Itza, Pirâmide de Kukulcán.


- Ó, grande Deus do Sol, nos ajude neste momento de extrema necessidade. – o sacerdote maia implorava para que o ídolo aparecesse.
Todo o povo assistia à reza, alguns na base da pirâmide, outros espalhados pelas escadas. O religioso, já estava lá há duas horas, e nada do deus aparecer. Alguns habitantes já desistiam, e voltavam para suas casas.
Mais quinze minutos, e nada aconteceu. Menos da metade do povo que estava lá antes, permanecia no local. Vendo seu fracasso, o sacerdote empunhou sua faca, e a cravou no próprio peito.
Várias pessoas ficaram impressionadas, mas todas respeitaram a escolha do homem. O que ninguém acreditava, é que seu sacrifício não fora em vão.
Depois de exatos trinta segundos de sua morte, uma enorme cabeça de pássaro surgiu de dentro da pirâmide, e logo depois, um gigantesco corpo de serpente foi revelado, juntamente com suas colossais asas de morcego.
Logo, alguns apontaram para o ser, e gritaram:
- Kukulcán! – e se ajoelharam diante do deus, fazendo reverências.
- Por que me chamam, servos eternos? – a criatura indagou.
- Precisamos de ajuda! – gritava um.
- Nossa colheita está acabada. – explicava outro.
Neste meio tempo, as pessoas que abandonaram o templo, voltavam desesperadas, com a curiosidade de conhecer Kukulcán.
- Se continuar deste jeito, iremos todos morrer de fome, ó ser soberano. – expôs um sacerdote iniciante, muito inteligente.
- Bem, se querem minha ajuda, minha ajuda terão. – disse o deus. – Porém, eu preciso que alguns subam até aqui. Mais precisamente, preciso de três pessoas.
Sem pensar mais, os três homens que estavam mais próximos do grande Deus do Sol, subiram até o topo da pirâmide, onde se encontrava o ser.
- Para que sua colheita melhore, eu preciso de três vidas. Itzamná leve-os daqui.
Um monstro horrendo saiu de dentro do templo. Ele parecia-se com um homem, mas tinha três metros de altura, um rosto cadavérico, o nariz mutilado, as mandíbulas descarnadas, vestido com uma longa capa preta – toda retalhada – e carregava uma foice ensanguentada. Andava descalço, deixando à mostra seus pés sem carne, e também exibia um olho pendurado no rosto, sustentado por um nervo.
- Então, vocês serão o sacrifício? – o deus da morte perguntou.
Os homens se ajoelharam, e com muito medo, assentiram. Sem hesitar, o monstro os degolou com apenas um golpe. E antes de voltar para dentro do templo, disse aos demais presentes:
- Façam bom proveito de sua colheita... – e adentrou a pirâmide, junto com Kukulcán.

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Vaticano, Hoje, Catedral de São Pedro.


- Vossa Santidade, achamos o artefato. – o cardeal avisou ofegante.
- Excelente! – o papa comemorou, e levantou-se, indo em direção à janela, que ficava atrás da mesa em que ele se encontrava.
- Finalmente poderemos restaurar a Inquisição! – o primeiro anunciou.
- Não acho isso sensato... – o outro comentou.
- Mas por quê? – o clérigo indagou incrédulo.
- Já que muitos impuros morreriam, a volta do Tribunal chamaria muita atenção, e como a Igreja não é mais unida ao Estado, entraríamos em uma guerra sem igual com todas as nações, e não suportaríamos. Mesmo com a Ordem Reapers ao nosso lado, o fim da Igreja Católica seria inevitável. Por todos estes motivos, a Inquisição não deve ser reerguida. – o Santo Padre explicou.
- Eu nunca havia pensado por este lado...
- Há muitas coisas das quais você nem imagina...
- Senhor, eu acho que devo avisar isto ao restante dos cardeais. – avisou o sacerdote.
- Sim, faça isso. – o papa assentiu.
E com uma reverência, ele se virou e foi embora. O pontífice ainda esperou alguns segundos, antes de se voltar em direção à janela, que para sua surpresa, estava aberta. Ele foi verificar a sacada, e percebeu que no canto da mesma, se encontrava uma criança.
Um garoto que aparentava ter uns seis anos, vestido ao modo do século XIX. O menino fitava o nada, e ao mesmo tempo, toda a imensidão no horizonte.
- Como você chegou aqui? – o Santo Padre perguntou.
- Então, você encontrou a relíquia? – o garoto indagou, sem desviar o olhar.
- Como você chegou aqui? – o primeiro insistiu.
- Agora poderá ter a ajuda deles? – o menino continuou.
- Se você não me responder, algo muito ruim irá lhe acontecer. – o papa ameaçou.
- E o que você vai fazer? – o outro se virou pela primeira vez, encarando o velho. – Por acaso vai me violentar?
- Se você não me responder, quem sabe...
- Eu sei de tudo. – a voz do menino se tornou metálica, espantando o religioso.
- Tudo o quê? – o senhor recuou para dentro da sala, enquanto o outro avançava contra ele.
- De toda a sua vida. Eu sei tudo sobre todos. Eu vim para te levar.
O clérigo pegou sua bengala, a qual tinha um diamante encravado na ponta, e o brandiu contra o garoto, emitindo uma forte luz. O outro não se incomodou, e com apenas um simples movimento com a mão, e sem tocar na arma, ele fez com que o papa soltasse o objeto. Abismado, o Santo Padre perguntou:
- Quem é você?
- Eu, meu amigo, sou exatamente quem você pensa. – o menino fez uma pausa antes de continuar. – Eu sou o Ceifador das Almas. Eu vim te buscar.
- M-mas, por quê? O que eu fiz de errado?
- Você abusou de crianças ingênuas, abominou pessoas que se preveniam da gravidez, excomungou homens e mulheres que gostavam do mesmo sexo, condenou à morte pessoas inocentes que criticaram a Igreja, roubou dinheiro do Estado, enfim, cometeu uma vida inteira de mentiras e omissões, repleta de pecados infames e blasfêmias. Agora, seu corpo será destruído, e sua alma se perderá entre nós, até ser encontrada por algum infeliz que estiver condenado à sua companhia. Logo, quando voltar à vida, tu viverás a pior existência de todas, e nunca mais voltarás a ser o mesmo. Então, aproveite seu último momento, antes que eu lhe mate.
- Você acha que vai me matar? – o velho debochou. – Como vai fazer isso? – e caiu na gargalhada.
O Ceifador apontou dois dedos na direção do papa, que ficou suspenso no ar. Parando de rir, o pontífice encarou o garoto, dizendo:
- Tudo bem, acho que a brincadeira acabou...
- Sua vida termina aqui. Bem vindo ao mundo sem fim. Não estarás vivo nem morto, então te prepara para uma eternidade de sofrimento. – o menino usou a outra mão, apontando para a cabeça do Santo Padre. Com um súbito movimento, ele separou o corpo da coluna, provocando uma morte instantânea. Deixou as duas partes do homem caírem inertes sobre o chão, e saiu pela porta da frente, não sem antes deixar um bilhete sobre os olhos do clérigo.
O que o Ceifador das Almas não esperava, é que dali em diante, todo o segredo dos Deuses estaria prestes a ser revelado.